quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Minha mãe pra mim.

Fica difícil entender toda a historia sem saber detalhadamente a imagem que tenho de minha mãe. E vou escrever aqui da forma que penso, sem filtrar nada, para que vocês realmente sintam (ou não) meu "lado".

Tudo começa com vagas lembranças de quando ela tinha uma granja em Simão Pereira, distrito daqui de perto, uma granja ENORME com 3 andares, uma piscina grande, sauna, freezer, sinuca. (O que hoje seria pra mim um PARAÍSO) e de certa forma foi um paraíso, tudo era bom, tudo era maravilhoso, a minha mãe era apenas minha mãe e a granja era apenas a granja e assim vai... eu não entendia o quanto minha mãe era rica e todas as outras questões adultas incluídas.

Sempre fui acostumado a ver minha mãe bêbada, feliz até demais, satisfeita com a vida porem nem tão satisfeita com a grande quantidade de dinheiro e de trabalho que ela tinha. Porém não entendia isso... coisa que eu adorava e achava que hoje vejo o quanto é desagradável era o fato dela sair a noite e chegar com os pés sujos e diversos outros sinais de uma noite bem aproveitada enquanto eu ficava sendo cuidado por diferentes empregadas, as quais tenho uma que considero MUITO MAIS DO QUE mãe e vó a Buía. (Depois conto dela). Não só por festas, minha mãe desde os seus 14 anos saiu de Torreões para trabalhar com meu pai na imobiliária dele, fazendo dela sem exagero, a melhor corretora de imóveis que eu e meu pai já vimos, um MONSTRO de vendas e uma mulher trabalhadora pra CA******... e o conjunto disso tudo fez com que eu não tivesse uma mãe do meu lado! Sempre quando penso nisso, vejo a imagem dela, e tudo que ela me deu, me proveu, porem não lembro de ter sido educado, suportado, alegrado e outras coisas que uma criança e um adolescente precisa pela Joaquina minha mãe.

Cansada da vida e do trabalho árduo que sempre teve aqui em Juiz de Fora, ela decidiu ir pra longe de tudo e todos, mudamos para Rio Grande do Norte.
Na cidade de Tibau do Sul, interior do estado, ela fez uma imobiliária e continuou sendo a corretora que sempre foi, e não sendo a mãe que eu precisava, até novamente com fruto de seu trabalho conseguir comprar uma casa de um valor alto em Natal, capital do estado, para lá fomos e ficamos, fui matriculado no melhor colégio da cidade e fiz intercâmbio para o Canadá durante 6 meses (MELHOR EXPERIÊNCIA da minha vida). Como sempre tive de tudo do bom e do melhor. Até que veio a época de crise, passamos fome juntos, dentro de uma casa enorme, sem um mantimento na dispensa! E com isso o stress e a pressão em cima dela, fazendo de mim o escape dela, e eu na formação do meu julgamento (14-15 anos) escutava ela gritar uma tabela de gastos detalhados que ela tinha por conta da minha criação. Eram coisas do tipo: Eu gasto 402,82 com seu colégio + 53,00 da van + 400 com alimentação nossa e etc...

Até que veio um personagem muito importante nessa história, o Roy, ex-marido dela, norueguês, loiro, alto, muito bem qualificado e sucedido, alguém que naturalmente quis ter como pai, porem ele me teve como um incomodo... lembro de um episodio: Em nossa casa tínhamos dois ventiladores, Natal - RN, temperaturas sempre altas, e sempre que ele dormia lá minha mãe pegava os dois ventiladores pra eles, um pra cada lado da cama e eu ficava apenas com o vento da janela, e eu sempre muito esperto, quando os dois foram jantar, peguei um ventilador e me tranquei no quarto fingindo estar dormindo, e acabava por dormir mesmo. Assim que sai do quarto, ao ouvir o barulho da minha fechadura, minha mãe tomada por uma raiva que vi poucas vezes, me atropelou correndo para pegar o ventilador de volta para eles e resmungando diversas coisas que nem tive o trabalho de reparar oque eram... Um acontecimento bobo com detalhes fúteis, porem carrego isso como uma dor no coração até hoje pois nesse dia percebi que o conforto dele era mais importante que o meu, e esse pensamento desencadeou outros maiores com mesma linha de raciocínio, ainda mais que nunca sentamos e conversamos sobre o fato de um loiro estranho entrar na minha vida, tomar minha mãe, minha casa, minhas coisas...

E nessas indas e vindas dela de Natal para Noruega, novamente voltou a ser rica, compraram um apartamento na beira da melhor praia de Natal, Flat e eu vim morar com meu pai, por não aguentar mais ser um fardo para os dois, convenientemente enquanto minha mãe fazia a logística para se mudar com ele para Noruega de vez me deixando mais uma vez para traz. Fiquei sabendo que ela pensava em investir 30 mil (cash) em barracas de praia, enquanto eu trabalhava aqui no McDonald's pra ganhar meus 515 reais mensais usados grande parte para pagar as contas do apartamento que até então estava parado. Sempre quando ligava pra ela pedindo pra ela voltar, ou eu morar com ela, tudo que ouvia era "Não dá agora amor, não tenho dinheiro/condições/merreca para isso"



É difícil escrever algo para descrever magoas e sentimentos, mas resumidamente com esses poucos exemplos, eu digo e repito sempre, tive de tudo, nunca me faltou nada financeiro e material, porem me faltou uma mãe, e hoje na situação que ela está, vejo que minha mágoa por ela é boba, e que não deveria guardar qualquer sentimento negativo contra ela, pois repito sempre tive de tudo, porem até hoje não tenho"minha mãe", e parece que dessa vez, não vou ter chance de te-la mais...


terça-feira, 19 de novembro de 2013

Sem saco...

Pra ir lá no pc escrever tudo que quero no momento... Mas resumidamente: minha mãe está no cti com câncer no colo do útero avançado já prejudicando toda sua função renal e intestinal, condição essa que médicos experientes afirmam existir a 4 anos e minha mãe provavelmente sabia dele! Ela escondeu da família até o momento que tive que ir correndo pra Natal RN buscá-la pois se queixava de muitas dores fortes na região abdominal. Joaquina 44 anos, minha mãe que só teve eu com seus 22. Uma excelente provedora, corretora de imóveis que saiu de torreões distrito rural de Juiz de Fora para Oslo na Noruega. Batalhadora, esforçada e o maior e mais sólido pilar da minha vida e da minha pessoa, porém uma péssima amiga e uma mãe ausente durante TODAS as fazes da minha vida. Neste momento está no CTI no hospital universitário de Juiz de Fora (que superou todas as nossas expectativas e tem tratado minha mãe com toda atenção necessária). Tive uma experiência difícil com minha mãe durante a vida toda e até hoje sofro com toda essa situação inconveniente de questionar meu amor por ela e o dela por mim sabendo que ela está muito mal e que a qualquer momento ela pode simplesmente não estar mais ali... Nesse momento meu coração de filho dispara e dói na alma lembrar o sofrimento que ela tem aguentado com uma força fora do comum. Lembro do médico contando que seu último procedimento cirúrgico pra desobstrução do intestino, ela foi reanimada após uma parada cardio-respiratória. E os dois dias seguintes de 16 as 17 horas que ela tem um membro da família ao lado.. Ela delirando com ônibus e meninas dentro de tubos de luzes... Coisas sem coesão juntos com breves voltas a realidade quando ela diz o quanto quer um sorvete, gelatina, um copo gelado de água, um banho e escovar os dentes... Sendo que nada disso é permitido na cti e nem por seu quadro clínico! Sabendo que se eu não arrumar um emprego até dia 1/12 não vou ter mais dinheiro para pagar as contas de casa... E todas as oportunidades de emprego misteriosamente deram errado, alguns dizem pra eu não me dedicar a emprego e cuidar da minha mãe mas acho que vai ser mais fácil cuidar da minha mãe com luz em casa... Certo, errado? De questionar o amor que sinto pela minha mãe? A mãe que quando estava boa me deixou pra traz para seguir sua vida na Noruega com seu marido que amava de mais, o mesmo que a infectou com uma dst chamada HPV, a responsável pelo início do câncer. Eu tinha 15 anos, obrigado a voltar de Natal para Juiz de Fora morar com meu pai que tenho também uma relação conturbada com mais baixos do que altos.

Estou acordado pensando em toda essa situação, no sofrimento da minha mãe e na minha atual situação financeira, sem saber muito oque fazer e sem muitas pessoas pra conversar... Minha namorada que tem tentado porém sem sucesso me animar e me deixar melhor, as vezes responsável por me deixar mal também... Ela não ia entender nem o fato de eu escrever sobre ela e provavelmente vai reclamar por eu não ter dedicado toda uma parte a elogia-la agradecendo por tudo que ela tem feito mais prefiro guardar isso para falar pessoalmente. Ta ficando tarde e eu preciso dormir pois a qualquer hora o telefone pode tocar e uma emergência pode acontecer com minha mãe, assim como tem acontecido mas ultimas duas semanas.  Ps: Josi seu blog foi o maior encorajador! E o pessoal que comentou obrigado, escrever realmente me faz muito bem.